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quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

O percurso, ou a chegada?

Por: Wanda Camargo

Professores da Universidade de São Paulo (USP), em conjunto com o Centro de Políticas Públicas do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), realizaram extensivo estudo sobre o Censo Educacional 2010, alertando sobre o grande número de formandos em humanidades no país, com consequente diminuição das remunerações dos profissionais destas atividades. Trazem também informações sobre o crescimento da demanda por profissionais das áreas ditas “duras”, mais voltadas ao aprofundamento científico e técnico.
O pouco estímulo às profissões que exigem muitos anos de estudo, dedicação profunda e renúncia aos prazeres momentâneos, como aquelas de áreas da saúde, informática, engenharias e técnicas, produz dificuldades de desenvolvimento social e econômico do país, e um verdadeiro apagão de mão-de-obra.
Embora haja um crescente movimento em direção aos resultados educacionais, com indicadores e rankings utilizados como diferencial competitivo e argumento de marketing, o Brasil experimenta diversas metodologias de ensino sem, aparentemente, muita segurança na obtenção de qualidade.
A defesa do ensino individualizado, prioritariamente centrado em uma concepção generalista para a cidadania, concentra carga horária nas questões éticas e de comportamento social, em um foco necessário e importante, porém certamente não o único necessário e importante na formação de jovens que enfrentarão uma realidade difícil e competitiva, em que poucos terão as melhores oportunidades.
A boa dieta educacional possivelmente deveria ser frugal, consistente, de boa qualidade, contendo o necessário na quantidade correta. Mas, frente às dúvidas sobre o melhor percurso de formação, servimos aos alunos um cardápio exagerado, tentando contemplar tudo o que julgamos indispensáveis à vida social, mesmo em detrimento daquilo que a Escola tem a obrigação de prover: os currículos tornam-se inchados, repletos de boas intenções, e a realização dessas intenções muito raramente ocorre.
A nova geração valoriza em demasia as últimas novidades da tecnologia da informação e comunicação, disponibilidade de muito tempo para conectar-se às redes sociais, e, recebendo educação com forte ênfase generalista, poderia ensejar maior envolvimento em projetos de interesse social, em detrimento do egoísmo. No entanto, observando os diversos grupos ou chats aos quais adere, enquanto uns poucos tentam melhorar suas vizinhanças e escolas, parte significativa apenas se fecha em comunidades com um tema comum, como a dos adoradores de um determinado filme, ou rancorosos de certa pessoa, o que, na medida em que se ampliam as adesões, aumenta o grau de certeza sobre a crença que já se tem, e diminui a tolerância ao dissenso e à inclusão.
Abaixo do discurso politicamente correto aumentam os comportamentos excludentes, as intransigências e atitudes violentas, perdendo-se a capacidade de reagir às frustrações e investir em estudo, dedicação e paciência para atingir um objetivo remoto. Importa o hoje, a satisfação momentânea e não a construção do futuro, que quase sempre, infelizmente, implica em renúncia às compensações imediatas.
Vamos amadurecendo frente às dificuldades de opção entre os fins desejados e os meios necessários para atingi-los, em uma sociedade que cultua o “jeitinho” em detrimento do empenho, e a esperteza em lugar da inteligência.
* Wanda Camargo - educadora e assessora da presidência das Faculdades Integradas do Brasil – UniBrasil.

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