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segunda-feira, 21 de julho de 2014

'A gente se dedicava ao máximo', diz Neymar em entrevista exclusiva

Jogador falou sobre a fratura sofrida, falhas na formação de jogadores, chance de casamento com Marquezine e apontou destaques da Copa.


Neymar em uma entrevista exclusiva! A primeira desde a coletiva que ele deu ainda na Granja Comary, dois dias depois do fatídico jogo contra a Alemanha. No debate nacional que começou com aquela derrota, o melhor jogador brasileiro ainda tenta entender o que aconteceu, reconhece que perdemos espaço para outras seleções e fala também da vida pessoal.
Tadeu Schmidt: Neymar, você disse na sua coletiva que a Seleção Brasileira não jogou como Seleção Brasileira na Copa. Por quê?
Neymar: Não tem um porque, por que jogamos dessa forma, não existe. Jogamos mal, jogamos regular!
Renata Vasconcellos: Que nota mereceu a Seleção nessa Copa do Mundo?
Neymar: Eu digo regular, uma nota que passa de ano: um seis, um sete, no máximo.
O Neymar nos recebeu na casa da família em Guarujá, no litoral de São Paulo, para onde ele foi quando sofreu a fratura de vértebra no jogo contra a Colômbia, atingido pelo lateral Zúniga, que depois se desculpou.
Neymar: Eu não vou concordar com o que ele fez, não concordo, mas aceitar desculpa, aceito numa boa. Porque o movimento que ele fez não é de futebol. Quando eu me machuquei, o Marcelo foi me levantar, eu falei "peraí que tá doendo". Aí eu ouvi o médico falar "vou te trocar". Aí eu falei "não, trocar não!" aí eu fui tentar levantar e não consegui.
Após a lesão, pensou em jogar a final?
O Brasil ainda tinha chance de chegar à final.
Renata Vasconcellos: Depois que você se machucou, passou pela sua cabeça jogar a final?
Neymar: Depois que eu fiquei sabendo que estava fora da Copa, não.
Tadeu Schmidt: Mas não tentou um milagre, não?
Neymar: Não, não. Não tentamos nenhum milagre.
Quantidade de treinos na Seleção
Foi em 4 de julho, na última vitória de uma Seleção que nunca pareceu muito segura, nem para a torcida nem para especialistas. O jogo seguinte, contra a Alemanha, levantaria de vez o debate sobre o futebol brasileiro.
Tadeu Schmidt: Quais foram os erros da Seleção? foram de tática, de técnica, de preparação, de psicológico? Onde estava o principal erro da Seleção?
Neymar: Não tinha principal erro da Seleção. Eu sou um cara que eu não entendo muito de tática. E tinha um comandante, era um dos melhores técnicos brasileiros que já teve, aconteceu, já passou. Enfim, eu não quero ficar remoendo essa história de Copa do Mundo, o que aconteceu.
Renata Vasconcellos: É, mas o momento é de avaliação, de balanço, e muita gente comentou que faltou treinar mais e festejar menos. Você concorda?
Neymar: Não, não concordo. A gente sempre treinou. É porque o pessoal que tá de fora vê de outra forma, né? A gente que tá dentro sabe o tanto que a gente treinou, o tanto que os treinos eram cansativos, porque a gente se dedicava ao máximo.
Renata Vasconcellos: Mas onde o Brasil errou? Você como profissional, olhando agora, porque muito se falou que teve um erro de tática?
Neymar: Eu não tenho o que falar de erro. Porque se eu começar a falar aqui eu posso comprometer um ou outro, e eu não quero isso. Até porque eu não sou o treinador. Eu sou um jogador, sou comandado pelo técnico. O que ele pedia pra gente, a gente tentava fazer da melhor maneira possível.
Renata Vasconcellos: O técnico Luiz Felipe Scolari errou?
Neymar: Se ele errou? Depende do quê? Eu não digo que ele errou, que ele foi mal no que fez, foi mal na escalação, não digo isso. Acho que na minha opinião eu também escalaria os mesmos 23 que foram para a Copa.
Técnico estrangeiro na Seleção
Segunda-feira, 14 de julho. A Confederação Brasileira de Futebol anunciou o desligamento de Felipão e de toda a comissão técnica. As especulações sobre o novo técnico incluíam nomes estrangeiros.
Renata Vasconcellos: Você apoia a ideia de um técnico estrangeiro na Seleção Brasileira?
Neymar: É difícil eu apoiar ou não. Isso não e uma decisão que cabe a mim.
Críticas à formação dos jogadores brasileiros
Quinta-feira, dia 17. Um dia depois de gravarmos a entrevista com o Neymar, o novo coordenador da CBF, Gilmar Rinaldi, descartou a vinda de um estrangeiro. Mas avisou que o novo técnico vai buscar informações e métodos usados em outros países.
A formação dos nossos jogadores, criticada até pelo coordenador anterior, Carlos Alberto Parreira, também entrou no debate.
Tadeu Schmidt: O Parreira disse que a formação dos atletas no Brasil é falha, Você concorda com o Parreira?
Neymar: Concordo, concordo. Eu acho que em treinamento, em posicionamento tático. Na informação que você passa para os atletas, que é muito importante. Você tendo informação, você consegue assimilar muito mais coisa do que só treinamento: "Ah, faz isso aqui". Se o cara passar o porquê ele tá fazendo isso.
Renata Vasconcellos: Você acha que muitas vezes os meninos acabam aprendendo de forma errada?
Neymar: Eu já quase aprendi de forma errada. Teve uma historinha curta, né? Com o meu pai, que, eu ´pequenininho e meu pai me contando depois, eu não lembro muito, mas ele contando que a bola veio pra minha perna esquerda, aí eu pisei na bola, né? E o treinador falou pra mim pisar e jogar pra direita, para chutar, por que eu era destro. E meu pai falou assim: ‘não, não, tá errado, pô. A bola foi pra esquerda? Chuta com a esquerda! Não tem problema, aprende’ Até você mudar de direção, você já perdeu muito tempo e hoje em dia o futebol é questão de segundos.
Futebol brasileiro atrás de outros países
Oito de julho. Toda essa discussão sobre as estruturas do futebol brasileiro foi levantada depois daqueles 7 a 1 da Alemanha na semifinal da Copa.
Neymar: Queria estar jogando, estar dentro de campo com meus companheiros. Meu sentimento fica até pior do que o deles, porque eu não tava em campo nem pra dar um pique, nem pra dar um passe errado, nem pra perder um gol.
O maior craque brasileiro ainda tenta entender o que está acontecendo.
Tadeu Schmidt: Você fala que não sabe de tática mas você cumpre o seu papel tático no campo.
Neymar: Pelo menos tem que entender, né? Eu não sei mas entendo!
Tadeu Schmidt: Não, você sabe das coisas ali. Você não sentiu uma coisa errada enquanto você estava jogando, sentiu?
Neymar: Não, acho que não senti coisa errada que tinha ali. Pra mim tava dando tudo certo. Mas infelizmente acabamos saindo e perdendo o nosso sonho.
Tadeu Schmidt: O futebol brasileiro está ultrapassado?
Neymar: Ultrapassado? Não digo ultrapassado. Acho que... tá atrás. Tá atrás de Alemanha, de Espanha. Estamos atrás, sim, a gente tem que ser homem suficiente pra assumir isso. Mas eu acho que o Brasil, os brasileiros, jogadores, é um dos melhores que tem no mundo.
Tadeu Schmidt: Nós estamos atrás. Mas aí nós temos o Neymar, nós temos o David Luiz, o Thiago Silva, a zaga mais cara do mundo. Nós temos o Marcelo, lateral do Real Madrid, Daniel Alves, lateral do Barcelona. Por que nós estamos atrás?
Neymar: É... Não sei.
Tadeu Schmidt: Eu podia ter citado o time, mas por que nós estamos atrás?
Neymar: Não sei. Não sei. Acho que... não sei, também não sei te explicar por que estamos atrás. Também me faço essa pergunta, também me faço a pergunta ‘por que não ganhamos a Copa do Mundo?’ Coisas que eu não tenho como explicar.
Piadas e críticas na internet durante a Copa
Tadeu Schmidt: Você acompanhou tudo que rolou na internet, as piadas? As críticas que foram feitas?
Renata Vasconcellos: Dá para rir nessas horas, Neymar?
Neymar: Às vezes sim, às vezes não, às vezes... enfim, acho que faz parte. Eu acompanhei algumas, algumas eu acho um pouco exageradas. Imagina se seu filho tá vendo isso. Imagina se o meu vê a galera me sacaneando ou pegando pesado comigo, não é legal. A gente tem que parar pra pensar que existem famílias atrás do jogador.
Renata Vasconcellos: Você conversou com o Fred?
Neymar: Não só com o Fred. Mas com todo mundo. Ele mesmo conversa comigo. Ele fala: ‘Ney, passei por isso e vou passar por isso de novo. Eu você tem 22 anos’. Eu sou 8, 9 anos mais novo do que ele. Então, querendo ou não, ele mais me ajudou do que eu ajudei ele. Ele é um cara experiente.
Neymar responde pergunta enviada pelo site do Fantástico
A internet trouxe também perguntas para o Neymar, feitas no nosso site.
Priscila Barcellos, de Vitória-ES: Diante da responsabilidade que é vestir a camisa da Seleção e a expectativa de todo o povo brasileiro em cima dos seus gols, você toma para si a responsabilidade da nossa derrota nessa Copa?
Neymar: Um beijo pra você, Priscila Barcellos. Não, somos 23 jogadores, mais a Comissão Técnica, se perde o jogo, perde todo mundo. Perdemos desta vez e na próxima vamos fazer de tudo pra vencer.
Renata Vasconcellos: Muita gente achou que a imagem dos jogadores chorando mostrou que o peso da Copa do Mundo acabou atrapalhando. Pesou?
Neymar: Para mim não, nem um pouco. O cara que fala ‘Ah, tá chorando porque tá pesado, Copa do Mundo", o cara é leigo, ele não entende, ele não sabe o que é estar ali dentro, o sentimento que a gente carrega. A gente tá chorando porque é o nosso sonho de criança. Cada jogador que tá ali sonhou com isso desde pequenininho, e a gente batalhou muito para chegar até ali.
Neymar escolhe gol mais bonito, Bola Cheia e Musa da Copa
Jogo rápido de perguntas e respostas sobre a Copa.
Tadeu Schmidt: Bola Cheia da Copa.
Neymar: Alemanha.
Renata Vasconcellos: Gol mais bonito.
Neymar: do James, no Japão.
Renata Vasconcellos: Musa da Copa.
Neymar: Musa da Copa? Minha namorada.
Casamento com Bruna Marquezine
Renata Vasconcellos: E vai ter casamento com a Bruna Marquezine, Neymar?
Neymar: Nãooo. Somos novos ainda. Estamos... Ela tem 18. Tá completando 19 agora. Eu tenho 22. A gente tem que viver um pouco a vida ainda.
Renata Vasconcellos: Ela te ajudou também durante esse período difícil?
Neymar: Me ajudou. Me ajudou. Foi uma pessoa que ficou praticamente 24 horas comigo. Eu era até um pouco chato. Por que...
Renata Vasconcellos: Por que?!
Neymar: Ah, por que eu ficava com os meus amigos, ficava com todo mundo. Sabe como que é namorada, né? Gosta de estar toda hora junto. Mas foi uma das pessoas que mais me ajudou neste momento, ela, meus pais, meu filho, meus amigos e isso é importante pra mim.
Aos 22 anos, ele ainda tem muito pra ver.
Tadeu Schmidt: Você usa óculos mesmo ou é só charme?
Neymar: Isso é só um estilinho.
Jogadores brasileiros para a Copa da Rússia em 2018
Renata Vasconcellos: Vamos falar de futuro? Rússia, 2018. Muitos dos jogadores que jogaram vão estar com mais idade. Que nomes vêm à sua cabeça quando você pensa no futuro?
Neymar: O meu!
Tadeu Schmidt: “Vai estar velho já, com 26 anos, vai estar velho a beça”.
Neymar: Vou fazer de tudo para estar nessa Copa. São quatro anos, três anos e meio praticamente.
Renata Vasconcellos: Tá ali.
Neymar: A gente está se preparando. Acho que Lucas, Philipe Coutinho, Bernard, Oscar... somos novos ainda. Temos 20, 21, então a gente pode chegar muito bem.
Cuidados com a lesão sofrida na Copa
No dia 5 de agosto, o Neymar se reapresenta ao Barcelona, e talvez já possa tirar a cinta e voltar a treinar.
Renata Vasconcellos: Você acha que esse golpe do Zúniga, de uma certa forma, vai provocar em você um cuidado maior, mesmo que não seja consciente? ‘Às vezes, eu vou pra uma bola e posso me machucar novamente’. Tem isso?
Neymar: Quando você volta a treinar, sim. Você tem receio de machucar de novo, de sofrer uma pancada nas costas, você tira o pé um pouquinho, no começo. Mas é o primeiro mês. Depois você esquece e vai embora.
Vai embora para jogar, entre outros, com o melhor da Copa.
Prêmio de melhor jogador da Copa para o Messi
Renata Vasconcellos: O Messi mereceu o prêmio de melhor jogador da Copa?
Neymar: Acho que eu falar do Messi... Acho que eu sou muito fã do Messi, pelo jogador, pela pessoa que é. Não sei se acho justo ou não, mas era um dos jogadores que, pra mim, estavam entre os três melhores da Copa. Acho que o Schweinsteiger, o Robben também... estavam entre os três. Acho que os três, pra mim, foram os destaques da Copa.
Lições da Copa do Mundo no Brasil
Renata Vasconcellos: Que lição você tira da Copa?
Neymar: Eu acho que eu tenho que me preparar mais. Quem se prepara melhor é o que vence. Se preparar em tudo: em viagem, em hotel, em treinamento, em chuteira, em tudo.
Tadeu Schmidt: Mas então faltou treinar mais pela Seleção?
Neymar: Não treinar mais. A gente treinou bastante. Às vezes, falta alguma coisa... sempre falta um algo a mais. A gente tem que achar esse "o quê faltou". Esse algo a mais, a gente só vai perceber daqui a um mês, dois meses, quando a gente voltar a se encontrar de novo. Então daqui a quatro anos, se Deus quiser, vou me preparar e fazer de tudo pra ter mais essa oportunidade.
Renata Vasconcellos: A gente torce por você também.
 
Tadeu Schmidt: Muito.

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