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quinta-feira, 10 de julho de 2014

Felipão enaltece trabalho, grupo e só lamenta “pane nos seis minutos”

Comissão técnica exalta desde preparação de treinos até trabalho estrutural na base, trata goleada como fato isolado e Parreira lê até carta de agradecimento ao treinador

Por Teresópolis, RJ
 
Foram apenas seis minutos ruins em um ano e meio. Seis minutos em que a Alemanha fez quatro gols e construiu o massacre de 7 a 1 sobre o Brasil na semifinal da Copa do Mundo. Na visão da comissão técnica da Seleção, todo o resto foi perfeito: o título da Copa das Confederações, o desempenho nos amistosos, o comportamento dos jogadores, o número de treinos, o trabalho de desenvolvimento da CBF nas categorias de base e a classificação final na Copa do Mundo em que, segundo Felipão, “os adversários estavam melhores do que eles imaginavam”.

Felipão coletiva Brasil (Foto: Heuler Andrey / Mowa Press)Felipão na coletiva da comissão técnico do Brasil na Granja Comary (Foto: Heuler Andrey / Mowa Press)
 
Luiz Felipe Scolari deu entrevista coletiva nesta quarta-feira, na Granja Comary. Só ele e o coordenador Carlos Alberto Parreira falaram, além de pitacos do auxiliar Murtosa e da presença na bancada do preparador de goleiros Carlos Pracidelli, do preparador físico Paulo Paixão, do médico José Luiz Runco e do chefe de delegação Vilson Ribeiro de Andrade.
Questionado sobre as declarações do presidente da Federação Catarinense de Futebol e vice da região Sul da CBF, Delfim de Pádua Peixoto, que cobrou a sua saída do cargo de técnico da Seleção e o chamou de ultrapassado e obsoleto, Felipão respondeu em tom de ironia:
- O único título que o futebol de Santa Catarina tem, eu era o técnico (nota da redação: a Copa do Brasil de 1991 com o Criciúma). Então o Delfim tem que me agradecer de joelhos. Nunca ganharam nada. E o que ganharam foi graças a mim. Eu não vou ficar respondendo a presidente de federação nenhuma.
Entre muitas explicações sobre o vexame diante da Alemanha, resumidamente, admitiram que o resultado foi catastrófico, mas defenderam com unhas e dentes o trabalho à frente da Seleção, com destaque para “dona Lúcia”, torcedora que teria enviado um e-mail de agradecimento a Felipão, lido por Parreira nesta tarde (saiba mais). 
Munido de papéis com diversos dados que deixou à disposição, como número de treinos e análises do fisiologista, Felipão repetiu por diversas vezes que a derrota por 7 a 1 foi horrível, mas que a vida dele e nem dos jogadores vão acabar. 

- Depois da Copa das Confederações, tivemos uma derrota e nove vitórias. Tínhamos uma equipe preparada, um sistema de jogo. Foi a primeira vez, desde 2002, que chegamos à semifinal. Foi uma derrota ruim, seis minutos de pane geral. Se eu pudesse te responder o que aconteceu naqueles seis minutos, eu responderia, mas eu não sei - disse Felipão, frequentemente interrompido por uma defesa de Parreira. 

Numa delas, o coordenador técnico leu um e-mail que, segundo ele, foi enviado por dona Lúcia, uma torcedora que já faz sucesso nas redes sociais com um personagem “fake”. Ela agradecia Felipão pela humildade e pelos momentos de felicidade proporcionados à nação, e citava a crueldade do ser humano por conta da pergunta de um jornalista sobre dívidas do técnico após a goleada (veja o vídeo ao lado). 
Felipão voltou a reclamar de tratamento diferente a erros da arbitragem a favor do Brasil e de outros países, se recusou a comentar seu futuro antes do jogo de sábado, em que irá brigar pelo terceiro lugar, elogiou o trabalho estrutural da CBF para melhorar o futebol brasileiro e disse que foi surpreendido pelo nível dos adversários da Copa do Mundo. 
- As equipes estavam melhores do que imaginávamos, jogando um futebol de boa qualidade.

O coordenador técnico Carlos Alberto Parreira insistiu em dizer que não mudaria a postura adotada antes do Mundial, quando falou em amplo favoritismo da Seleção ao título na competição em casa.
- A visão é a mesma de anteriormente. Positiva, otimista, de quem está jogando em casa. Nunca vi um líder, um comandante dirigir seus comandados e dizer "Vamos para a guerra e vamos perdê-la". Era obrigação nossa ser positivos, acreditar no potencial dos nossos jogadores. O trabalho foi muito bem conduzido em um ano e meio. A Alemanha está há oito ou 10 anos trabalhando com esse time. Sabemos que foi doída a derrota, mas não houve reversão de expectativa. Se me perguntassem de novo qual era a expectativa para a Copa, respondo que era de ganhar. Ficamos tristes, como todos os jogadores. Todos queriam ser campeões em casa. Mas agora é vida que segue, e é olhar para frente.

Carlos Alberto Parreira Coletiva Brasil (Foto: Heuler Andrey / Mowa Press)Carlos Alberto Parreira também tentou dar explicações durante a entrevista (Foto: Heuler Andrey / Mowa Press)

Confira alguns trechos da entrevista de Felipão:

ESTATÍSTICAS

- Temos dados estatísticos que provam que depois da Copa das Confederações tivemos apenas uma derrota, montamos uma equipe preparada, com sistema de jogo... Tínhamos que desenvolver a confiança nos nossos jogadores. E fizemos isso através dos resultados. Não esperávamos essa derrota catastrófica em relação ao número de gols. Só não podemos esquecer que depois de 2002 essa é a primeira vez que a Seleção chegou à semifinal. Agora passa a ser importante o outro sonho que temos, que é terminar em terceiro lugar na Copa do Mundo. 

FUTURO

- A CBF nos deu todas as condições de trabalho, as melhores que imaginávamos. Nós e os atletas temos compromisso com a direção até o final do Mundial. E nosso final de Copa do Mundo é o jogo de sábado. Não vamos discutir esse assunto em hipótese alguma antes do jogo. Depois disso, provavelmente, nós vamos conversar com a direção da CBF, dar o relatório do que foi feito, de como foi feito, série de detalhes. Aí a presidência vai examinar o que aconteceu de bom e errado. 
VEXAME
- Nós chegamos aqui de madrugada, o pessoal comeu alguma coisa, foi dormir e só nos vimos agora ao meio-dia. Mas não falamos nada. Falar em cima do jogo de ontem, com as imagens mentais que temos, não vale a pena. Vale a pena temos a colocação exata das coisas. Se eu pudesse te responder com consciência o que aconteceu naqueles seis minutos, eu responderia. Mas também não sei (...) Não tenho como explicar, não vou justificar e também não acho que os meus jogadores tenham dificuldade de assimilar. Perdemos como nunca tínhamos perdido. É histórico, sim, mas não podemos terminar a vida dos jogadores. Agora eles continuam o trabalho pelo Brasil, voltando a ser os melhores do mundo e, pelo menos 70%, no mínimo, vai estar em 2018 com uma bagagem diferente. 

BERNARD

- São 28 jogos que treinei equipe, nos 28 o Bernard estava em 24, no mínimo. Jogou em 18, 17, 16, entrou durante ou saiu jogando. Ele sabia perfeitamente como íamos jogar, de antemão e tudo mais. Se nós usamos a imprensa (para enganar a Alemanha), peço desculpas, vocês não nos usam nunca (ironicamente). 
MANCHA
- Quero dizer a vocês todos que a colocação de todos nessa mesa foi uma solicitação geral. Em princípio eu tinha dito que viria aqui conversar com vocês, porque tenho dados que podem acabar com as dúvidas de vocês. Mas todos quiseram vir porque somos uma equipe que ganha e perde junta. E mais: entendo perfeitamente, sei o que aconteceu, sei o que é a mancha, a vergonha, sei o que é tudo e sinto, isso nunca vai sair de mim. Mas se avaliarmos por números podemos ver que estamos no caminho certo.

TRABALHO DE BASE

Nós já estamos fazendo isso, temos bons cursos, trabalho de base sendo feito pela CBF junto aos jovens treinadores e aos treinadores das categorias de base que deve resultar no futuro. Muitas vezes não é passado ao publico de forma tão explicita, mas já está sendo feito na administração do Marin. Mas é longo o trabalho.

NÍVEL DA SELEÇÃO
Nós não tivemos o mesmo nível, não fomos dentro do que tínhamos planejado conseguindo atingir os resultados. Fomos razoavelmente bem na primeira etapa, jogo ímpar, diferente contra o Chile porque era jogo muito disputado, guerra praticamente, depois jogamos bem contra a Colômbia, fomos evoluindo. Contra a Alemanha tivemos aquela dificuldade, não estivemos no nível, mas num nível de razoável pra bom desde o início. Não no mesmo nível, mas em condições de enfrentar e passar obstáculos. Único senão foi esse jogo de ontem.
POUCOS TREINOS
Muito foi cobrado e falado a respeito de treinamento, mas se forem pesquisar e olhar os dados da Copa das Confederações, foram os mesmos, o mesmo número de treinos. Então, a ideia não é correta, temos dados para passar a vocês, quando quiserem a gente passa. Não tem nada diferente daquilo que a gente imaginou, o diferente foi esse confronto com a Alemanha, o número de gols.

ESTADO FÍSICO
- Posso explicar, pelo departamento médico e físico, tudo planejado. Não tivemos lesão nenhuma, não tivemos dificuldade nenhuma. Quando precisamos de 120 minutos, corremos os 120 minutos, passamos por cima do adversário nos 30 finais. Tomamos um gol de bola parada na competição, fizemos cinco de bola retomada e seis de bola parada. Alguma coisa é trabalhada, prefiro dizer que foi sofrível, mas chegamos entre os quatro melhores do mundo. 

TERCEIRO LUGAR

- À medida que não jogarmos bem, não ganharmos, tivermos outra decepção como a que tivemos ontem, claro que vai piorar. Embora mesmo com uma vitória poderá mudar muito pouco a decepção de ontem, isso não adianta. A gente sabe disso, mas tem que trabalhar com objetivos. Era a ideia, o sonho de chegarmos à final, não conseguimos, jogamos por um sonho bem menor. 

ALEMANHA

- Veja bem, estou dizendo que Alemanha tem oito anos de preparação, nós temos um ano e meio. Experiência em determinados momentos é importante. Queríamos chegar  a uma final, nisso tomamos segundo gol, sai a bola, perdemos, tomamos o terceiro. Então é isso que aconteceu, não mudaria nada. São bons jogadores, atingiram objetivos, ganharam Copa das Confederações, vieram aqui e foram à semifinal, não dá pra denegrir.
CRÍTICAS DO PRESIDENTE DA FEDERAÇÃO CATARINENSE E APOIO DE MARIN
- O único título que o futebol de Santa Catarina tem, eu era o técnico (nota da redação: a Copa do Brasil de 1991 com o Criciúma). Então o Delfim tem que me agradecer de joelhos. Nunca ganharam nada. E o que ganharam foi graças a mim. Eu não vou ficar respondendo a presidente de federação nenhuma. Antes de terminar jogo de ontem, quando terminou, passados 10 minutos, 15, menos, lá estava o presidente Marin. Pedindo pra falar com os jogadores, para se posicionar e tudo mais, recebemos visita do Cafu, que foi ao vestiário, abraçou, conversou com todos os jogadores. Marin comunicou a confiança que continua tendo nesse grupo. Em todos que faziam parte do grupo especificamente. Não precisamos que ele esteja presente aqui, temos o Vilson como representante, temos telefone, comunicação a medida que precisarmos de alguma coisa, não é essa dificuldade que aconteceu. Ele está sempre presente.

DERROTA ESTIMULA A FICAR?

- Derrota daquele jeito ali não estimula nada, tem que tirar da cabeça o que é impossível e buscar alguma fonte alternativa, nossa vida não é feita só de derrotas. Essa foi a pior de todas, mas também é feita de muitas vitórias. Vida é legal e vai continuar, ninguém vai morrer por causa disso. Buscar algumas situações para corrigir e enfrentar esse tsunami que aconteceu ontem.

RIVAL NO SÁBADO
- Se for Argentina é um clássico muito importante, muita rivalidade, características diferentes de jogo da Holanda. Bem diferentes. Coloco em campo a equipe que perdeu ontem ou faço uma ou outra modificação para ideia melhor no futuro sobre determinado jogador? Vamos estudar em grupo, não tomo decisão sozinho, embora responsabilidade seja minha. Sempre pergunto, questiono por que, tenho dados espetaculares do fisiologista sobre o trabalho, vejo que algumas pessoas dão opinião, trabalham na televisão, no jornal e querem saber mais do que o fisiologista.

FATOR CASA
- Penso que jogar em casa, como comportamento do torcedor, que tiveram, foi para o bem. Foram fantásticos, mesmo ontem quando estávamos tomando de 5 a 0, ainda foi espetacular. Sentimento de raiva e tudo quando tomamos o sexto gol, aí sim, e acho que estão totalmente certos, não tem nada de errado nisso. Mesmo quando voltamos e no dia a dia, notas que recebemos, cartas, e-mails, telegramas são de muito apoio. Não foi ruim jogar no Brasil, foi ótimo, maravilhoso, ainda assim mostramos muito mais ao mundo do nosso país, das coisas que são nossas, para que a gente receba no futuro o que mais ou menos não é correto que imaginavam lá fora.
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