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segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Billings pode evitar o rodízio? Veja fatos e a opinião de especialistas

Reservatório tem capacidade maior que o Cantareira, mas água é poluída.
Governo diz que aumentará captação para abastecimento da população.

Isabela Leite Do G1 São Paulo
São Paulo planeja retirar mais água da Represa Billings, na Zona Sul de São Paulo, para reforçar os sistemas Guarapiranga e Alto Tietê. A medida integra um pacote de ações para amenizar a falta d’água no estado. Mas, quais os impactos e as possibilidades para o uso da represa? Ela pode salvar os clientes da Sabesp que dependem do Cantareira?
O G1 ouviu especialistas e o governo. Veja abaixo fatos e opiniões sobre o tema:

Billings - O uso da Billings pode evitar o rodízio? (Foto: Arte/G1)
NÃO, O ALCANCE É LIMITADO

A água que será futuramente levada da Billings não vai chegar diretamente ao Sistema Cantareira. A água vai reforçar as reservas de dois sistemas que passaram a atender ex-clientes do Cantareira (Guarapiranga e Alto Tietê).
Atualmente o Cantareira abastece 6,2 milhões de pessoas. Antes da crise, eram 9 milhões. A diferença foi absorvida pelos outros sistemas e a Sabesp não divulgou novos planos para ampliar a interligação de toda rede e migrar todos os clientes do Cantareira para outros sistemas.

Billings - Como a água da Billings  é usada hoje? (Foto: Arte/G1)
GERA ENERGIA E ABASTECIMENTO

O primeiro uso da Billings, na primeira metade do século 20, foi para armazenamento de água para geração de energia elétrica na Usina de Henry Borden, em Cubatão, na Baixada Santista. Mas, ao longo do tempo e com o crescimento de São Paulo, o uso prioritário passou a ser para o abastecimento da população nos moldes de hoje.
Ao todo, a Billings colabora com 7,7 metros cúbicos por segundo de água para atender 2,3 milhões de pessoas pelos sistemas Rio Grande e Guarapiranga. Isso corresponde a um terço do Cantareira ou metade do Alto Tietê. Na Baixada Santista, o Rio Cubatão também usa água da represa para abastecer 250 mil pessoas, segundo a Sabesp.

Billings - Quanto volume a Billings têm disponível? (Foto: Arte/G1)
VOLUME É DE 500 BILHÕES DE LITROS

A Represa Billings tem capacidade para armazenar 1,2 trilhão de litros e é considerada o maior reservatório da região metropolitana de São Paulo, segundo a Secretaria Estadual de Meio Ambiente.
Em janeiro, o volume armazenado era cerca de 500 bilhões de litros. Para efeito de comparação, o terceiro volume morto do Cantareira tem 41 bilhões de litros. Apesar disso, ela não é considerada como um dos sistemas de abastecimento da Grande São Paulo e fornece água para complementar sistemas.

Billings - Quantas pessoas ela poderia abastecer? (Foto: Arte/G1)
ESTIMATIVA É DE 4,5 MILHÕES

Estima-se que a Billings teria capacidade para fornecer água a cerca de 4,5 milhões de pessoas, o que não ocorre devido à poluição e intensa ocupação irregular nas margens, segundo especialistas.
A presença de contaminantes industriais é outra preocupação. “A Billings foi um reservatório que por muito tempo foi usado para receber afluente industrial, e o lodo no fundo da represa ainda tem uma concentração grande desses resíduos”, explicou o professor associado do departamento de engenharia hidráulica e ambiental da Escola Politécnica da USP, José Carlos Mierzwa.

Billings - A água da Billings tem qualidade? (Foto: Arte/G1)
REPRESA TEM NÍVEIS DIFERENTES DE ESGOTO EM CADA TRECHO

A água da represa tem níveis diferentes de poluição. Desde 1958, a Sabesp usa água de dois braços da represa: do Rio Grande retira 5,5 m³/segundo para atender Diadema, São Bernardo e parte de Santo André. Essa parte do manancial é considerada mais limpa e é isolada da parte mais poluída da Billings.
Do Rio Taquacetuba retira 2,19 m³/segundo. Esse trecho é mais contaminado porque está próximo à área de descarga da água dos rios Tietê e Pinheiros sem tratamento, e enviados para o Guarapiranga.  Entretanto, nem toda a represa tem a mesma qualidade. Teste feito a pedido do Bom Dia Brasil com uma amostra da Billings mostrou que a água está contaminada por bactérias, como escherichia coli, salmonella e shigella, provenientes da contaminação por esgoto não tratado.

Billings - É possível deixar a água potável? (Foto: Arte/G1)
HÁ TECNOLOGIA DISPONÍVEL PARA TRATAR A ÁGUA A REPRESA

As técnicas convencionais de limpeza da água usadas hoje em São Paulo não são suficientes, segundo o professor da USP José Carlos Mierzwa. Ele indica sistemas mais sofisticados, como o de membranas ultrafiltrantes, meio com mais capacidade para reter impurezas, como alternativa.
A Sabesp não definiu como será ampliado o tratamento com o aumento da vazão da Billings, mas o sistema de membranas já é usado pela empresa e deve ser implantado nas estações de reúso de esgoto, as EPARs. O resultado, segundo o superintendente de tratamento de esgotos da RMSP Roberval Tavares de Souza, é uma água absolutamente limpa e sem nenhuma impureza.

Billings - É preciso obra para ampliar o tratamento? (Foto: Arte/G1)
PROCESSO NÃO FOI ESCLARECIDO

Apesar da indicação do uso de membranas ultrafiltrantes, a Sabesp não deixa claro como o tratamento da água será adaptado para o aumento da vazão nos sistemas Guarapiranga e Alto Tietê. O governador disse que serão instalados contêineres para a filtragem com membranas, mas o material precisa ser importado porque não há fabricação no Brasil.
A compra do material e adaptação para a filtragem é considerada rápida, mas levaria em torno de um ano, segundo o professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Escola Politécnica da USP, José Carlos Mierzwa.
A Sabesp diz que essa tecnologia produz água com muito mais rapidez e que precisa de um espaço físico menor. O tratamento, que levaria pelo menos duas horas, ocorre em 20 a 30 minutos, funcionamento automatizado e com menos produtos químicos.

Billings - Como a Billings vai ajudar o Cantareira? (Foto: Arte/G1)
AJUDA NÃO SERÁ DIRETA

A Sabesp não divulgou planos para levar o volume retirado da Billings ao Cantareira. O destino será os sistemas Guarapiranga e Alto Tietê. Alckmin diz que a ideia é aumentar mais 1 metro cúbico por segundo da Billings para a Guarapiranga e outros 4 metros cúbicos por segundo para o Alto Tietê, mas os volumes de captação ainda não foram confirmados.
Não há plano de envio de água direto para o Cantareira. Ao atender esses dois sistemas, a Billings indiretamente atende ex-clientes do Cantareira, que foram remanejados pela Sabesp após o início da crise hídrica.
O professor titular da Universidade Federal do ABC em engenharia ambiental e urbana Ricardo Moretti defende que a ideia de usar a água da Billings não deixa de ser uma “cortina de fumaça”. “Não tem como completar os 16 m³/s do Cantareira do dia para a noite”, afirmou.

Billings - quando a água chegará aos outros sistemas (Foto: Arte/G1)
PRAZO PARA CAPTAÇÃO É INCERTO

A forma como a captação será ampliada e quando ela começará ainda não foi divulgada pelo governo e pela Sabesp.
O Jornal Nacional apurou que os técnicos planejam iniciar as obras em fevereiro, com prazo de conclusão entre fim de maio ou começo de junho. Entre as opções está a construção de 13 quilômetros de dutos entre a Billings até a Represa Taiaçupeba, para a inclusão de 4 metros cúbicos por segundo no Sistema Alto Tietê.
Ricardo Moretti, da Universidade Federal do ABC, defende que a represa não vai resolver, a curto prazo, a crise hídrica. “Construir tubulações para tirar água da Billings até uma ETA [estação de tratamento de afluentes] precisa de obra, e não é nada simples. Mesmo que seja a curto prazo, não é algo para 2015”, explicou.

Billings - Santos terá geração de energia prejudicada? (Foto: Arte/G1)
EMAE NEGA PREJUÍZO PARA BAIXADA

A Empresa Metropolitana de Águas e Energia S.A. (EMAE), que tem a concessão para explorar a Billings e outros reservatórios para geração de energia elétrica, afirma que as manobras para aumento da retirada da represa não prejudicarão a operação porque têm sido discutidas entre os órgãos gestores de recursos hídrico e de energia.
Desde novembro, a vazão de água da represa para a usina foi limitada em 6 m³/s para que a Billings pudesse bombear maior volume para a Guarapiranga. Isso faz com que a geração de energia seja de 34 MW, quando a capacidade instalada na Usina de Henry Borden é de 889 MW. A operação do sistema segue determinações do Operador Nacional do Sistema (ONS) para o Sistema Interligado Nacional (SIN).

Billings - Quais as alternativas além da Billings (Foto: Arte/G1)
RODÍZIO ESTÁ EM ESTUDO

A Sabesp admite que estuda o rodízio, embora oficialmente negue que exista um formato ou data definida. Por sua vez, o governador de São Paulo cita que estão em andamento novos projetos, obras de interligação, medidas de incentivo à redução do consumo e aguarda que chova. Nenhuma obra que mudará a condição do Cantareira tem data de entrega prevista para 2015.

O governo promete entregar até o fim do ano a Estação de Produção de Água de Reúso (EPAR) perto do Autódromo de Interlagos, na Zona Sul, para gerar 2 metros cúbicos de água no abastecimento da represa de Guarapiranga.

Ações como o aumento da produção de água, com a Parceria Público-Privada (PPP) do Sistema Produtor de Água São Lourenço, além do aumento da captação dos sistemas Rio Grande, Guarapiranga, Baixo Cotia e a interligação do Rio Paraíba do Sul, também são apontadas pelo governo estadual como alternativas para aumentar a oferta de água, mas os projetos dependem de obras com prazos de conclusão a médio e longo prazo.

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