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quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Plano de contingência da crise hídrica em SP prevê rodízio em emergência

Documento obtido pelo G1 foi formulado por governo do estado e prefeituras.
Ações foram definidas de acordo com três níveis de atuação.

Glauco Araújo e Luciana Bonadio Do G1 São Paulo
Homem observa nível da Represa Jaguari (Paraíba do Sul), que faz parte do sistema Cantareira, na região do Vale do Paraíba, em São Paulo, nesta segunda-feira (9)  (Foto: Nilton Cardin/Estadão Conteúdo)

Homem observa nível da Represa Jaguari (Paraíba do Sul), que faz parte do sistema Cantareira, na região do Vale do Paraíba, em São Paulo, nesta segunda-feira (9) (Foto: Nilton Cardin/Estadão Conteúdo)
Governo de São Paulo, prefeituras e entidades da sociedade civil concluíram o Plano de Contingência contra a crise hídrica em São Paulo. O documento orienta como o poder público, companhias e a sociedade civil deverão agir em caso de seca ou desabastecimento de água para a população da Região Metropolitana e até a forma de implantação de rodízio, o corte sistemático de abastecimento, que deverá ser executado somente em caso de emergência.

O G1 teve acesso com exclusividade ao documento, que descarta, por exemplo, o abastecimento por caminhões-pipa em caso de emergência em pontos considerados prioritários, como hospitais e presídios. O governo paulista havia prometido apresentar o plano de contingência às Prefeituras da Grande São Paulo em junho, mas ele deverá ser apresentado ao Comitê de Crise Hídrica integrado por 39 municípios na próxima semana.
O texto identifica e mapeia as edificações das áreas de saúde e segurança pública a serem atendidas ininterruptamente como prioritárias, como hospitais, maternidades, presídios, unidades da Fundação Casa e clínicas de hemodiálise (veja lista). A estratégia pressupõe o abastecimento desses pontos diretamente pela rede da Sabesp, que precisa de obras para prolongamento de redes.
O documento cita o Hospital das Clínicas, na região da Avenida Paulista, para exemplificar a dificuldade de abastecimento por caminhão-pipa. Segundo os cálculos, seriam necessários 300 caminhões para garantir a água utilizada pelo hospital diariamente. "O intervalo de tempo entre as chegadas dos caminhões teria que ser inferior a 5 minutos para que o hospital pudesse funcionar normalmente", diz o plano, reafirmando que a melhorar alternativa é o "atendimento contínuo pela rede da Sabesp, em quaisquer condições". 
O plano poderá ser ativado pela Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado de São Paulo sempre que forem constatadas as condições estabelecidas nos níveis de atuação, e prevê a programação de ações para vários cenários hidrológicos e detalha as ações necessárias para curto, médio prazo para minimizar os efeitos de estiagem no estado de São Paulo.
O plano de contingência considera ações em três níveis:
NÍVEL 1 - ATENÇÃO: deverá ser adotado quando houver sinais de estiagem prolongada, quando então passa a existir uma situação de risco elevado de não ser atendida a demanda de água.
NÍVEL 2 - ALERTA: será adotado quando a situação dos sistemas de abastecimento chegar a níveis críticos, podendo comprometer a curto prazo o atendimento à demanda de abastecimento de água. O risco de não atendimento é elevado.
NÍVEL 3 - EMERGÊNCIA: será adotado quando for eminente o não atendimento da demanda, uma vez que um ou mais sistemas de abastecimento estejam sob elevado risco de esvaziamento crítico, comprometendo o abastecimento de parte da população com grau de severidade significativo.
Neste nível serão feitos cortes sistemáticos no abastecimento de água de modo a evitar o colapso total de um ou mais sistemas produtores de água potável.
Em caso de emergência, quando a possibilidade do rodizio existe, o plano prevê ações como a restrição de água potável para atividades industriais de grande impacto e atividades de irrigação. Caberá à Sabesp, à Secretaria de Recursos Hídricos e às prefeituras a operação de abastecimento em pontos prioritários e a requisição, se necessário, de poços outorgados para a distribuição de água à população em pontos de apoio.
Mapa - consumo de água (Foto: Arte/G1)

As secretarias estaduais e municipais de saúde ficarão com a tarefa de orientar a população sobre o consumo seguro de água e de garantir o acesso ao hipoclorito de sódio – usado para purificar a água - para populações vulneráveis. As secretarias estaduais e municipais de ensino serão responsáveis por garantir o fornecimento de água às escolas por meio de caminhões-pipa e evitar, ao máximo, a interrupção das aulas.
Os órgãos de comunicação estaduais e municipais deverão, de acordo com o plano, informar a população sobre bairros e regiões afetados com eventuais cortes, assim como as datas e horários exatos do corte e do restabelecimento da água.
Criação do bônus
O texto informa que a Região Metropolitana é composta por cerca de 170 setores de abastecimento, com média de 125 mil habitantes por setor. O Sistema Cantareira é dividido em cerca de 70 setores de abastecimento.
O plano informa que, em março deste ano, a economia de água obtida com a aplicação do bônus/ônus foi de 6,2 m³/s. Na Região Metropolitana, 82% dos clientes reduziram o consumo de água, sendo que 72% deles atingiram mais de 10% de redução e conseguiram a bonificação na conta.
Dos 18% dos clientes que tiveram consumo acima da medida, 11% sofreram com a aplicação da tarifa de contingência e, para 7% não ocorreu a tarifação por estarem com o consumo abaixo de 10m³ ou cadastrados em tarifa social.
Plano de contingência mostra as mudanças nas áreas abastecidas pelos reservatórios (Foto: Reprodução)

Plano de contingência mostra as mudanças nas áreas abastecidas pelos reservatórios (Foto: Reprodução)
‘Papelório inútil’
A criação do Plano de Contingência foi anunciada pelo governador Geraldo Alckmin em fevereiro deste ano, mas foi concluído somente agora. À época, o governo afirmou que não pretendia colocar em prática o plano porque conseguiria garantir o abastecimento de água "com racionalidade".
Em julho, o governador de São Paulo disse que o Plano de Contigência era um "papelório inútil". "Vai ser entregue. É outro papelório inútil. Para quê? Só para gastar dinheiro público porque não vai ser aplicada Contingência nenhuma. Nós vamos atravessar o período seco sem nenhum rodízio, mas o Brasil é um grande cartório. Tem que fazer papel, gastar dinheiro pra ficar na gaveta pra todo mundo ser cobrado", afirmou Alckmin.
Em agosto, o governador afirmou, no entanto, que o calor inesperado no inverno fez com que o consumo de água subisse e que não descartava a implantação de medidas de contingência. "O plano de contingência não está descartado. O próprio nome já diz: contingência. Se houver necessidade, ele será executado. Mas nós estamos trabalhando para não precisar executar."
Em nota, a assessoria de imprensa da Secretaria de Recursos Hídricos afirmou que não comentará o documento apresentado pela reportagem, pois desconhece sua origem. A versão oficial do Plano de Contingência para o Abastecimento de Água da Região Metropolitana de São Paulo será apresentada no próximo dia 19/11, em reunião do Comitê da Crise Hídrica.

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