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quinta-feira, 3 de março de 2016

Experimento flagra zika atacando neurônios pela primeira vez

Grupo simula desenvolvimento do cérebro para observar efeito de vírus.
Resultado de estudo do Rio, porém, ainda passa por revisão independente.

Do G1, em São Paulo
Tecido nervoso normal (A) e tecido infectado pelo zika (B); flecha mostra o vírus. (Foto: Rehen et. al/PeerJ)

Tecido nervoso normal (A) e tecido infectado pelo zika (B); flecha mostra o vírus. (Foto: Rehen et. al/PeerJ)
Um estudo que simulou o desenvolvimento de cérebros humanos em laboratório mostrou que o zika ataca neurônios em estágio de desenvolvimento -- evidência mais forte até agora de que o vírus deve estar por trás de casos de microcefalia no Brasil.
A conclusão saiu de um experimento em que cientistas da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e do Instituto D'Or criaram neuroesferas -- também conhecidas como "minicérebros" -- pequenas estruturas de neurônios criadas em suspensão em tubos de ensaio.

Neuroesferas são criadas a partir de células da pele de humanos adultos, que são reprogramadas para regredir a um estágio similar a células embrionárias e então recapitular o desenvolvimento humano.
Ao infectar essas estruturas com o vírus da zika, um grupo liderado pelo biólogo Stevens Rehen observou que o patógeno afeta a formação dos minicérebros.
"Nós mostramos que o ZIKV [vírus da zika] ataca células cerebrais humanas, reduzindo sua viabilidade e o crescimento  de neurosferas", escreveram os autores em um estudo divulgado nesta quarta-feira (3). "Esses resultados sugerem que o ZIKV impede a neurogênese [formação de neurônios] durante o desenvolvimento cerebral humano."
O estudo do grupo de Rehen foi publicado na revista científica PeerJ, ainda sem passar por um processo de revisão por um grupo independente -- praxe no meio acadêmico.
Caso seja confirmado, o estudo se soma a outras evidências científicas parciais obtidas até agora para conectar o zika à microcefalia. Já se sabe que o vírus é capaz de cruzar a placenta -- algo que o o vírus da dengue não consegue -- por exemplo.
Quebra-cabeça
Um estudo de caso-controle -- que avalia efetivamente o risco de uma infecção por zika efetivamente causar microcefalia em um feto -- ainda está em andamento. Testes de infecção em camundongos também ainda não tiveram resultados revelados. A questão de por que algumas gestantes acabam tendo seus bebês afetados e outras não, além disso, ainda é uma dúvida que desafia cientistas.
O trabalho de Rehen, de qualquer forma, encaixa uma das peças mais importantes do quebra-cabeça. Um grupo de pesquisadores na USP, liderado pela bióloga Patrícia Braga, conduz experimentos similares aos de Rehen, e caso obtenha resultados positivos, deve reforçar a conclusão do colega do Rio.

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